Intervalos Lúcidos

Um dia fui xamã em uma tribo de sombras,

Noutro fui o herói grego de uma tribo de areia,

Depois fui surfista das ruas de uma comunidade,

Mais tarde fui Orfeu da lira elétrica em Babel,

Cansado, tornei-me um transeunte

vestido de figurante de um mundo líquido,

Quando tornei a pegar a lira,

ela era acústica de cordas de nylon.

Decidido a me tornar Orfeu novamente,

me perdi na poesia dos tantos aedos desse universo

e deitei a minha vida no colo da crua humanidade

vivendo na selva da piedade.

Voltei para o berço doente de beleza,

Contagiado pelas dores do mundo,

me esparramei em grãos no seio de meus conterrâneos

e fui filtrado pela peneira do coração dos loucos... adoecemos de imaginação e afeto.

Resolvido a proclamar a República da Disfunção de Barros,

Fui até Roma com o propósito de conquistar seu coração,

mas como no poema de Álvaro de Campos,

quando cheguei lá só havia ervas e árvores

e quando havia gente era igual à outra,

e tudo me pareceu alheio, estrangeiro,

como todas as faces dessa história.

Acordo após quase três décadas com a queda desse fracasso,

(e quantos intervalos latentes de lucidez tive com a queda dos personagens passados, quantos finais trágicos ja não tive quando a cortina de meus sonhos fechavam para eu abrir meu pesadelo real de razão nua de qualquer tema novo para sonhar, quantos tombos não perceptíveis agora pela neblina saudosa da nostalgia daqueles primeiros versos?!)

Percebo que só sou sonho

em uma espera obrigatória de um sono sem sonho.

Leandro Tostes Franzoni
Enviado por Leandro Tostes Franzoni em 14/06/2016
Reeditado em 28/11/2023
Código do texto: T5666723
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