PARADOXO

dê-se por satisfeito

se te enterrarem uma flecha no peito

que penetra fundo é dói

não por acaso em tudo há dois gumes

enquanto um cura, o outro destrói

e para quem não aguenta o intento

vem o suicídio, súbito ou lento

a perseguir a hipotética paz dos cemitérios

nunca se provou, nem mesmo a ciência

que no profundo sono da morte

cada ser [ateu, crente ou cético] leva escondido

um quê de profético e originário

que une a humanidade em um estúpido

e último desejo imaginário:

querer perpetuar a mesma incerteza

de sentir em tudo esses dois lados

que rejeita e pelos quais se sofre uma vida inteira...

e parte-se com a lembrança de voltar a ver o sol raiar

[mesmo que quadrado]

no dia do juízo final

[que não há no calendário]

Virginia Finzetto
Enviado por Virginia Finzetto em 10/06/2016
Código do texto: T5663214
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