O NOSSO PARTO DE NOVO

Tem vezes em que o sono teima em aconchegar

as engrenagens da cabeça parecem não entrar em acordo

o sangue se diz mais aflito, mais afoito.

Nestas horas parece que estamos tendo nosso parto de novo

sentimos como se aportássemos no mundo pela primeira vez

nossa alma fica ungida do mel dos desbravadores.

Então abandonamos a cama como se fugíssemos da morte

e ficamos feito barata-tonta sem destino, nem métrica,

parece que deixamos de cumprir algo que agora veio nos encurralar.

Mesmo assim o sono chama pra si

vozes do nada emanam em coro para frearmos esta energia

a intuição fica mais íngreme, mais desparafusada, mais liberta.

Isso vai durar até toda energia ficar no bagaço

quando, por fim, retomaremos ao barco do sono, vencidos,

porque o descansar chegou com todas suas malas pra ficar de vez.

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