LUCIFER
“Restos das fibras do tempo
correndo diante do
pesadelo que começa
teu abandono me quer
no trono do velho hipócrita
que dos céus traz nuvens
e tempestades
teu sacrifício será em vão
arranque no peito
o símbolo que dobra tua espinha
que te acorda vazio de novo
no mesmo dia”
eram seus amigos na noite
portando armas na boca
atirando no escuro
sobre suas façanhas
eram seus pais dormindo
com outros na mesma cama
quando entrou
quando se escondeu dentro do armário
sentindo o furor mudo
do ar da sensualidade avulsa
que pulsa num coração pequeno
que batia sem parar
quem dormiu na sua cama
tinha manchas vermelhas
eram tintas eram “cores tão vivas”
ainda borrava se tocasse
teu irmão maduro era a mesma
criança no escuro
chorando as dores no espelho
pintando o rosto
querendo ser outro
querendo ser menina
querendo nascer de novo
suicidou-se num álamo
de raízes podres na esquina
antes do colégio
pra que todos vissem
sua verdadeira alma
cantar versos do pântano
matrizes imersas de santo
criado pra acontecer
a primeira morada depois
da fuga do lar conhecido
era familiar demais
a estrada a rua perto da avenida
que levava ao novo lugar
onde bebia um drink mágico
com tão pouca idade
disfarçado com barba postiça
era também conhecido
não conhece agora
as gotas que a ânsia
mesclou com sangue
por causa da fome?
MUSICA DE LEITURA: ANTON SZANDOR - PROLOGUE