ANTES E DEPOIS DA VAGINA
 
 
 

a riqueza
eu não sei
com certeza
mas a pobreza
nasce agregada
à nossa
natu
r
e
z
a


enquanto
minha mãe gemia
para a vida
ela me elegia
mas a vida
para mim
não fez elogio
nem elegia

quem
nasce pobre
nasce sem
a devida energia
e de vida
não se recebe
dívida
pois que diluída
na roupa puída
e cheia de

v
i
d
a


pobre
só vê escuro
em plena
luz do dia
sofre sofre
e não tem cofre
não ri
e de chofre
 recebe na cara
uma aura fria
pouco
condescen
d
e
n
t
e

com a aleg
r
i
a


nascido
vocacionado
para a morte...
não importe
para onde
o corpo penda
tenda ou entorte
há sempre
uma tristeza
sem riqueza
que lembra
e ensina
que pobre
não é para ter
sorte

sangro
por onde
aponta a agulha
que fere
com a falta
de norte
e nem
interessa
aquele querer
que vem do leste
seguindo estrela
que não brilha
nem oritenta
pois pobreza
é grande
e não passa
pelo buraco
da agulha

à vida
feita de tecido
podre que não
aceita costura...
...só se atura...
...feita de uma
de uma matéria
austera e megera...
...na caneca
feita de cacos
um amargo
ralo e raro
café
na tijela
de pouco fundo
arroz quirera
que mais parece
quimera...
...quem é pobre
em fé se esmera
mas a riqueza
é antiga
e a pobreza
é da mesma
era

é tão precária
toda essa miséria
hereditária...
...pobre perde
o estômogo
para hospedeiro
de barbeiro
e a cabeça
para um ovo
de
solit
á
r
i
a


mas pobre
espera
até que desespera
e também opera
para que morra
no muro
da riqueza
toda aquela
arcáica
 h
e
r
a


pobreza
é palavra que vem
desde o ovo
mas vem junto
a arte da espera
de uma melhor sorte
de se nascer

de n
o
v

o

minha mãe
quando me nasceu
não imaginava
a triste sina
que saia
de sua
va
g
i
n
a


pois desde antes
se destina
aquilo que segue
depois que sai
pela vagina

Mas:
Minha mãe,
sorria
e até ria!

não é culpa sua
toda essa hereditária
falta de alegria
que se escancara
em plena cara
da luz do
d
i
a