FUMAÇA

 




fumaça
expelida
pelas quatro tetas
altas e eretas
de uma cerâmica
de tijolos e telhas

a torre da
Assembleia
de Deus
grita
"Desperta Brasil"
que está no hora
de orar
e que Jesus
vai libertar

crianças brincam
de esconde-esconde
bola biloca
finca e bete
bete bete
taco
na bola bate
até a rua
ficar escura
e não mais
se ver a bola

marchas
de John Philip Sousa
soam vindas de longe
lá no colégio onde
ensaia a fanfarra
já pintando o sete
de setembro

meu pai chega
da roça
com seu Jeep
azul e sem capota
carregando cansaço
em seu pesado
passo

ao longe
entres tubos
de tijolos
o sol se alaranja
junto com a fumaça
que ao final da tarde
embaça

para inaugurar
o invisível da noite
de repente um disco
passa todo voador
vindo talvez
de marte
fazendo
muita marca
na mente menina
toda malazarte

tardes
instantes
flashes

cheiro de barro
queimado
 crentes
cheios de bíblias
católicos bêbados
de pinga...
...o bêbado
mais limpo
do mundo
passando
exalando
sabonete Phebo
e leite de
rosas

o dia morre
e de noite
só morte
até que um dia
a gente acorda
e cresce

tudo
já é passado
mas ainda em mim
faz presente