MEMÓRIA D'ÁGUA

 

 
memória líquida
e por isso úmida
antes chovia mais
uma chuva muita
molhoda
e muito

olha
d
a

.
.
.

quando
se é pequeno
mundo é maior
menos plano
e mais pleno

nele chovia
para inaugurar
a hora de brincar
e muito se m

olh
a
r


que para a mãe
só servia
pegar gripe
e até pneumonia

visto de hoje
o lugar era pequeno
e a sua água
era salobra
de sobra
ao ponto
de veneno

era em Diolândia
uma rua de chão
coalhada de pedra sabão
rua maior
da cidade menor

Rua Uruana
ali na ladeira
na saída para Carmo
do Rio Verde
muito chovia
e a rua sumia
pois todas
as nuvens
compreendia

então tudo se movia
até rua virar rio
de água marrom
cheia de navio
deslocando tudo
lama cascalho
e até criança
meninos

quase pelados
só de calções
feitos de trapos
rotos e
ba
r
a
t
o
s


correr
de alegria
pular pular
até quase voar
fazendo da água
seu ar

fazendo
valer a pena
toda e qualquer
pneumonia
com sua mania
de não rimar
com alegria

deitar no chão
adicionar água
misturar-se então
como se fosse leitão
deixar a vontade líquida
passar por cima
ajuntar paus
pedras e barro

fazer barragens
novas Itaipus
e Tucuruís
só para ver
seus rompantes
e rompimentos
tudo inundar
corpos
nossas almas
Beléns
e todas as
Buenos Aires
Parás e Argentinas

aquela rua
era maior
que o mundo
e nela se podia
tudo

fazer de tudo
construir criar e inventar
para não se esquecer
até na memória
meu ser
recriar
em acordo
com meu modo
de ver
viver
revirar
e reviver