Lavra

Lavra que lava, lavra que leva, lavra que eleva...

Lavra o grito ainda em silêncio

E lavra o silêncio antigo e maldito

Lavra no escuro, em branco ou em negrito, tudo o que está escondido

Lavra na luz, lavra cada cruz

Lavra com calma, no compasso da alma

Lavra depressa o correio da memória, um pouco da história, mas lavra...

Lavra na rua, lavra sem véstia, lavra como é digno estar sob o olhar da lua, lavra nua!

Lavra no mar, nas curvas das ondas, na paciência da areia, o amor da sereia

Lavra no ar, no mais frio alto, lavra lá o remorso d’um percalço, vai e lavra!

Lavra descalço, sola no solo, o que assola e o que mata, o que o leite esconde na nata

Lavra sozinho, o raso e o profundo, o limpo e o imundo, mas lavra!

Lavra, com medo tanto melhor, lavra com orgulho a busca do mergulho

Lavra reto, lavra torto, o que é feto e o que é morto

Lavra o que pensa, lavra o que sente...

No gelo ou na larva, que derreta ou que arda, não importa, lavra!

E se não tudo, lavra o possível...

E se não por si, lavra por mim...

Mas lavra logo, não é antes do fim, lavra antes de mim...

Que eu quero te ler, este simples lavrador...

Lavra!