Calo
Preâmbulo
Eu jamais conseguirei ser cem por cento poeta como forma Ginsberg e Whitman, pois pousa sobre mim a importância da família, de educar, de ter posto alguém no mundo pra cuidar. Além disso, existe o lance da epifania, pois, diferentemente do que todos os poetas acreditam escrevemos com o corpo com as mãos, com a maquina de escrever, e este momento é o ultimo que temos possibilidade de abarcar a realidade. Esperou para escrever depois, já era. Foi e não é mais arte, e como diz Heidegger, a poesia é o nosso único e ultimo contato com a realidade, e daí eu escrevo esta epifania quando voltava de Curitiba para Campo Largo:
CALO?
Na velocidade desenfreada do carro de Jagrena
Vejo a imagem obliterada pelos pingos da chuva no pára-brisa da Igreja da Fazendinha
Estou no fundo do fundo do poço que ainda tem um alçapão
Mas é melhor viver calado e deixar um regado
Deixei minha terra, minha saudade, meu pé de qualquer coisa, no meio de uma fumaça, solidão e fuligem.
Moloch de Ginsberg
Mas sempre quis deixar algo, que alguém falasse, que alguém achasse legal dizer, como um santo, um político ou ao menos um fanfarrão.
Queria deixar a pureza que existe no teatro triste tigre de Vilsek
Queria levar os acordes dissonantes que tiram o som e o sono de Jaremick
Queria ser mais Campo Largo e menos São Paulo
No congestionamento asfixiado de racionalidade cartesiana
Não consigo desvelar o seu eu que existe alem do seu eu minha amada
Estou no alto da montanha, acima de tudo, grito e ouço meu eco
Vou atrás do meu eu verdadeiro que é cantador, poeta e preliminarmente falso.
Ouço o meu eco, melhor do que ser cantado é ser lembrado, algoz juvenil.
Volto para estrada, de nunca deveria ter saído
On the Road, sou Kerouac
Sai da onda de falar sobre a exacerbação da racionalidade
Vou falar somente sobre a Roberta dançando com as mãozinhas de Cleópatra
Somente as canções que a Luiza gosta de cantar: Maria, Maria
Exatamente o que você espera: não vou ser como a maioria dos poetas:
Vou calar