Absurdas as asas do morcego

Dos dedos largos dos insectos

a borbulharem-se fumegantes e desmedidos,

no tacto vasto da pele dúctil,

em palavras que já não escuto,

que já não oiço,

em palavras escorridas, esdrúxulas,

caminhadas na carne viva das silabas

labiais,

que já não sinto mais,

das verdades mastigadas sem saliva,

desce por fim acortinada,

cacimba roxa de penumbras.

Absurdas as asas do morcego,

em gestos, em batidas inconstantes

em voos inopinados de ansiedade.

Esta saudade, pontilhada a traço largo

no desassossego fervido

no leite coalhado de lactose ebúrnea,

depurada no tecido do deleite amortalhado.

Elevo a alma ao arco-íris das flores,

e dele, retenho uma a uma,

dos cinzas, todas as cores.

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 05/07/2007
Código do texto: T553398
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