Absurdas as asas do morcego
Dos dedos largos dos insectos
a borbulharem-se fumegantes e desmedidos,
no tacto vasto da pele dúctil,
em palavras que já não escuto,
que já não oiço,
em palavras escorridas, esdrúxulas,
caminhadas na carne viva das silabas
labiais,
que já não sinto mais,
das verdades mastigadas sem saliva,
desce por fim acortinada,
cacimba roxa de penumbras.
Absurdas as asas do morcego,
em gestos, em batidas inconstantes
em voos inopinados de ansiedade.
Esta saudade, pontilhada a traço largo
no desassossego fervido
no leite coalhado de lactose ebúrnea,
depurada no tecido do deleite amortalhado.
Elevo a alma ao arco-íris das flores,
e dele, retenho uma a uma,
dos cinzas, todas as cores.