Ao vento assobio

Ao vento assobio

Além de mim, mau poeta,

só quem sabe decifrar o entremeio

é quem morre em mim, segredos;

e em meio aos meus versos tortos,

em suas entrelinhas,

metáforas de sentimentos...

e é a ti e por ti

que, sem nenhum sofrimento,

o meu inferno assobio...

Às faces que não se velam

mas se alteram em altares;

ao fogo que é forjado,

aos truques e às farsas,

às falsas confissões,

pecados não incógnitos

e ao que é descartável,

sem manto, assobio...

Enquanto em mentiras

se esboça um sorriso

e força-se o siso, no cio

que de dissimulado,

a si mata e a outro morre...

a esse rio que não corre

e nem às pedras dá o limo,

à vida em desperdício,

em meu canto assobio...

Assobio,

aos vícios que me desligo

aos toques que não alcanço,

ao que não tem equilíbrio,

na espera em que me canso,

nos sonhos que não encruzilho ...

E ao que da vida filtro

e destilo em preguiça,

ao que se enguiça e não vivo,

ao tempo que me dá as costas

em descarte dou-lhe asas

e silencio em resposta

ao que não me é reciproco;

o meu deus não me faz cego

aos fardos que em mim carrego

e ao teu ego assobio.

Poema inspirado na obra "Assobio", de Carlos Marcos Faustino.