No corpo de tantos gestos
Ontem e hoje, de fato,
Trago o ferro e o fogo certos
de mil capitães-do-mato.
 
Por toda e qualquer estrada,
Tu bate, mata, esquarteja:
Valha-me mata fechada
Nessa intérmina peleja.
 
Neste quilombo ou favela
Tem corpo moído, caçado;
Tem pelourinho, banguela
Em um rosto descarnado.
 
Cabeça no pau fincada.
Sangue na terra, no mar.
Lambada, foice, picada
Sob a hóstia no altar.
 
Terra de flor, arapuca
- seja pobre ou seja rica –,
Da minha carne insepulta
Nasce pomar, tiririca.
 
...Do ventre de tantas fia,
Roliças de pão com pinga,
Nasce Bastião ou Cutia
Sem desconjuro ou mandinga...
 
Com tanta inhaca, quizila,
Quando vou “tirá cipó”,
O cutelo me aniquila
Sem piedade, sem dó.
 
No corpo de tantos gestos
Ontem e hoje, de fato,
Trago o ferro e o fogo certos
de mil capitães-do-mato.
Carlos Fernandes
Enviado por Carlos Fernandes em 26/11/2015
Código do texto: T5461567
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