Visões

O olho enxerga

A fé que é cega

A paixão que é cega

E o ódio que me cega

Ante a dura realidade

O olho enxerga

Mentiras ditas como verdades

Nascendo em frase dissimulada

A flor que jaz na alma amargurada

Padecendo em ressentimento

O olho enxerga

O cristalino do tempo

Na transparência das horas

A lágrima que ainda não choras

Retida em rancor mais profundo

O olho enxerga

O caminhar pelo mundo

Na tessitude da vida

A beleza da alma escondida

No poema que a ausculta

O olho enxerga

Aquilo que a mente oculta

Na quadratura dos cantos

A solidão nos recantos

Adormecidos do coração

O olho enxerga

O que nega a emoção

Das palavras sem consistência

O sentido da conveniência

Expresso em fatos distorcidos

O olho enxerga

Pedaços de sonhos perdidos

Dispersos pela amplidão

Prazeres que surgem e se vão

E que levam ao fundo do nada

O olho enxerga

A busca obstinada

Pelas coisas que não têm sabor

A ausência carente do amor

Na tristeza que não termina

O olho enxerga

A luz em meio à densa neblina

Mostrando o caminho seguro

A porta que encerra o futuro

Até onde a vista alcança.