O TESTAMENTO
Olho ao longo da estrada
que deu numa encruzilhada,
os amigos, os parentes,
não seguem o mesmo trajeto.
Já não os vejo e por certo
alguns nunca mais verei.
Lugares, casas, pessoas,
coisas ruins, coisas boas,
tudo que me acalentava
nessas andanças da vida...
Só me resta o assovio
das toadas que cantei.
Entre amar e ser amado,
sonhos e desilusão,
abri mão da própria sina.
Pra fugir da solidão
tranquei-me na imensidão
da poesia na retina.
Mas um imenso vazio
não cabe no testamento
mágoa, paixão, sentimento,
poemas que degustei,
beijos por mim não roubados
risos que não derramei.
Vou usar do que me resta,
gozar do que há por vir,
lembrança sempre arrumada,
sei que não levarei nada,
mas deixo a saudade pronta
pro momento de partir.
Saulo Campos - Itabira MG