Ve(r)de e Admirai-vos! ( Amazônia)

(I)

...E do Verde-Mata nasce a Vida, na pureza de ricos

Passos, e com ela o Poema, de gotas de caolha

Água, entrelaçado às palavras com asas e bicos

Que gorjeiam em meio aos versos de madeira-folha

No santuário de espécies, a tratar dos Tecos e Ticos

Oh! Formoso tapete espelhado pelo brilho dito

Da imensidão de envoltos bichos diversos

A ecoar, no túnel de trilhados verdes e submersos

Que estão a fugir da certeza do último grito

Cobiçam o Pulmão que sustenta os vivedouros

Além das riquezas que a terra-mãe em seio segreda

Pulsante, e vive, a escorrer cada pingo de sangue d'ouro

Esverdeado-escama como o camaleão da Grande Lenda

E as labaredas vão abrindo um lençol de turbos varredouros

Banham-se os botos nas águas profundas e pegam caronas

No Verde-esmeralda que brilha com o contraste dos rios

Que se abraçam em harmoniosa junção d'almas e brios

E vão como dois verdadeiros irmãos formar o Amazonas

(II)

...E do Verde-Mata cresce a Vida, terra do Rei Simbá

Porto-casa dos guerreiros Bororos, Yanomami e Kayapó

E dançam ao luzir da nova lua em Carimbó e Boi-bumbá

Implorando em lágrimas indígenas pela não dizimação ao pó

Que pretendem os canibais exploradores dos cantos de cá

Será que tais inocentes vão pagar pelo preservar e serem martirizados?

Tirar-lhes o alimento que provém do imenso chão de esmeraldas?

Da ambição profícua e feroz sentimento em nessas empreitadas

Com suas máquinas vermelhas mortíferas avassaladoras e armados...

E lá vêm eles com o barulho infernal e ensurdecedor

Carregando nas mãos o instrumento do assassinato e começam

Derrubando uma por uma as verdes-esmeraldas sem pudor

E depois do ato consumado lá estão elas jacentes e não viram

O brilho torna-se opaco diante de olhares desprezíveis, sem dor

O povo chora as lágrimas de sangue que lhes restam

Ajoelhando ao solo casto para que de lá nada se tire

Mas o homem-canibal não se importa com eles e que atire

Tudo, não lhes são de conhecimento as raízes do ar que respiram...

(III)

...E do Verde-Mata extingue a Vida, os Sais da Terra

Oh! Pequena árvore que no meio de tantas tem medo

Medo de crescer e ter que morrer sem nada fazer em meras

Sombras que lhe punham idem aos teus belos arvoredos

Pois nunca se precisou de esmeraldas opacas ao longo das Eras!

Mas, de uma Floresta que extinta muito em breve será

Fica o Apelo: Não destruam nosso rico Paraíso!...

Que veio junto com a criação do mundo e por isso

Deixe-a quietinha lá mesmo e inda pouco restará!

Não destruam nosso rico Paraíso!...

Ele precisa do brilho reluzente da Vida-Verde!

Inda há esperança de sobrar uma única árvore e piso

Para que essa cresça e dê novos frutos em Rede

E então surgirá um Novo e inda mais rico Paraíso!

Pois do Verde-Mata nasce, cresce e extingue a Vida que berra!...

E ouvirão as palavras em gozo dos novos Povos

Que replicarão: Oh, sim! Ve(r)de e admirai-vos!

O espetáculo que acaba de florir em sinfonia à Nova Era!

Ângela Lugo & Diego Melo (Dieg@o_Poetastro)