Tango

Movimento contrastante que lhe transpassa

Como navalha fria na carne quente

Brilho ofuscante de lâmina prata

Contornada pelo arabesco rubro do sangue

Fenecendo a possibilidade de um amanhã

No signo de uma cena trágica

Folhas mortas aos pés das árvores nuas de outono

Dançando na ejaculação turbulenta do vento

Movimentando-se com a violência de um verão tropical,

Perfume fúnebre de flores brancas da primavera

Dilacerado por um frio cortante de inverno

Um punhal métrico perfurando compassos

Na melodia entorpecida do sono de Julieta

A dor é esfacelada no gozo

Como o suicídio dos generais romanos

Ao encenarem uma falsa Ofélia,

Os pulmões do bandoneon de Piazzolla sopram

Uma melancolia que se enrola na fúria

Dançando no tabuleiro do xadrez de Borges,

Pensamentos tristes tomam corpos

E movimentam-se graciosamente agressivos

No colo de uma beleza não amarga, como a de Rimbaud,

Mas ácida como o fervor lúbrico de uma paixão

No ventre do desespero

Fecundando um cântico melancólico

Que anuncia uma partida antes da chegada

Denunciando assim a beleza sublime

De toda a tragédia humana.

Leandro Tostes Franzoni
Enviado por Leandro Tostes Franzoni em 02/11/2015
Reeditado em 01/06/2016
Código do texto: T5435684
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