Esculturas
Há certos desastres que desejamos fazer parte...
Nossas vidas são sucessões de catástrofes emocionais
Batizadas com o nome de quem passam por ela
Somos monólitos lançados pelo desejo
Se chocando nas esquinas do acaso
Nos machucando para lapidar uma expressão
Que nos abre por inteiro em um sorriso
Para depois nos trincar por dentro
Nos torturando com a memória que se constrói
Nas rachaduras vazias de nossa alma
Ecoando um grito desolador para anunciar
O desespero de nossa brutal solidão
Somos despedaçados pelo excesso de risos
Que nunca mais iremos sentir
Nos rasgando cada um com sua identidade
Deixando conosco apenas o vestígio cruel
De uma imensa e avassaladora saudade
E mesmo sabendo disso ainda nos atiramos
Um na vida do outro, nos invadimos
Sendo esculpidos pela violência das paixões
Porque aquele que se priva disso
Passa pela vida sendo apenas pedra
Somos as esculturas ambulantes do amor
Destinadas a se fragmentarem
Para constituir o belo e trágico mosaico da vida.