A CONFUSÃO É A SOBREMESA DO AMOR
me fitavas com pupilas de bolero
erguendo brinde à nossa gênese terrena
mascando o tempo como quem cumpre pena
de ajoelhar-se quebrantada diante do clero
fumavas como se foste greta garbo
soltando aros ao redor do meu pescoço
desfilando etérea além da carne e do osso
pondo em doce pânico este pobre albibarbo
me tocavas com mãos de harpista
como se de minhas costelas saíssem notas
roubando-me as meias sem tirar-me as botas
cobrando-me a dívida desse amor à vista
fumavas ainda mais como zsa zsa gabor
turvando-nos a visão no quarto-e-sala
bebendo em copo barato uma vodca rala
sufocando-me apesar de tanto calor
me apertavas com mãos de tenaz
até que a dor se tornou maior que a surpresa
arremessaste com estrondo o copo contra a mesa
agora era eu a presa desta aranha voraz
fumavas mais e mais como louise brooks
acendendo um no outro como haicais
ensinando-me a arte de não querer mais
assim como outros truques