PRIMAVERA, ONDE ESTARÁS...?
A paisagem da minha janela todo dia muda
Nasce um prédio, morre outra muda...
O verde entristece quando amanhece
Pois, vendo o concreto que cresce,
Vai ficando pálido de mágoa
E as raízes com saudade d'água...
Os gentis olhos verdes em mim
Parecem falar d'um início do fim:
- Não guardo mais aqueles ninhos
Minhas frondes não tem mais carinhos
Dos cantos, das asas, das brisas...
E o sol, enquanto a pino me profetisa:
- A tua sombra já está desfolhada
Só refrigera o vazio nas tuas galhadas...
Mas, sei que as flores estão voltando
Ruflando perfumes das pétalas de encanto
E sei também, as cores vêm com elas
Trazendo um quadro de luz, de acalanto
Nas alegrias invernais das primaveras...
Pois, das réstias de frio e de estiagem
Virão outras verdes paisagens...
Mas, olho de novo pela janela
De dentro de minha cidadela:
Por onde haverá os jardins
Nos paralelos e asfaltos sem fim...?
E onde encontrar o solo permeável?
Recolhendo lágrimas do céu amável...?
Filtradas pela terra até a raiz
Deixando todo o verde mais feliz...?
E os quintais onde cresciam os matos?
Onde cantava o vento às bananeiras?
Folhas despejavam amendoeiras
Perfazendo os chãos atapetados...?
Por onde as miúdas joaninhas
De apetite ecológico e voraz
E os pulgões que nem os vejo mais
Consumindo as folhas mais verdinhas...
E a reunião noturna dos grilos
Sob um manto estrelado distante
Que quebrando o silêncio do instante
Eram sinfonia em cada estrilo...
E aquelas luzes que víamos ainda
Quando existiam lotes baldios...
E logo que as sombras tomavam os vazios
Lá vinham os pirilampos, que visão mais linda!
Hoje o que eu vejo são luzes no asfalto
E sons muito distantes de balas perdidas
E encontradas em corpos sem vidas
A única luz natural vem do alto...
Peço ao sol, a lua e as estrelas...
Nunca desistam de nós indolentes
Ponham um pouco de luz nessas mentes
Como fazem nas bondosas sementes...
E nós? Nós que as possamos protege-las...!
As sementes e as mentes, germinantes
Que em suas terras depois da germinação
Espalhando ideias, o fruto e o pão
Trazendo para perto, os mais distantes
Sonhos de um novo mundo, sussurrante...
Que só de nossas mãos... Dependerão...
Autor: André Luiz Pinheiro
13/09/2015