Depois de ti o mar vagueou

depois de ti o mar vagueou

pelo passado sem memórias

pela canção dos próprios passos

se embriagou

soçobrou

se afogou

derramou-se nos rios

bebeu as pedras nas fontes

murmurou,

gemeu nos horizontes

disse palavras

chorou desencantos

e tantos

desmanchou-se em vãos pedaços

e o mar, então, foi só cansaços

respiração ofegante dos anjos cansados

madrigal

dizendo as cinco estações

primavera: derramando flores no ar

verão: espraiando sol nas vidas abertas

outono: derrubando flores, brincando de pega com a luz

inverno: fria solidão doendo nas nossas mãos incompletas

a quinta estação não tem nome

é o silêncio andando com a lua

é a noite andando casualmente na rua

é o silêncio que eu pressinto,

mas não ouço

a quinta estação

é o calar de todo este alvoroço

é a estação do silêncio

dizendo o desassossego inteiro do teu corpo

e o marulho comovido,

envelhecido

e ritmado das estrelas