Desperto de um sono de mil anos
Desperto de um sono de mil anos
com pálpebras cozidas com agulhas de saca
ao âmago virulento das palavras.
De quimeras embrulhadas em ventos e ciclones
no traçado de lonjuras secas de planos.
Acordo vinda do frio com os músculos hirtos
e os gestos quebradiços, corrompidos nos tojos
densos com que tecemos abraços de moluscos
apodrecidos por dentro de algibeiras.
Regurgito de um sonho verde, dormido à sombra
de penumbras farpadas a um mar de chumbo
e de vagas moribundas, sempre alteradas.
Espreguiço os sentidos à luz do novo dia,
purgo-me de ti,
bolino-me por dentro, no ressaibo e no revezo
do gosto e do pasto da noite da utopia.
Ressuscito por fim, no mastigo de rosas ácidas.