IÇADA A VELA
içada a vela apagada a vela singra negro o convés
determinado a cruzar este braço até o findar da noite
noite esta que desprovida de nuvens, não há quem o acoite
tomando para si a nudez do céu como véu e a lua como pés
içada a vela apagada a vela busca às cegas o prometido farol
que nalgum canto se esconde até que se veja o tenue facho
iluminando pequeno a peculiar fauna que o mar tem por baixo
revelando moréias e lampréias enquanto não se declara o sol
içada a vela apagada a vela de longe se vê a linha da praia
adormecida criança calada atada a um toco para que não fuja
ainda é noite pois eis o silêncio com passos de fantasma e olhos de coruja
abaixada a vela ainda apagada a vela a manhã nos recebe na barra da saia
aos poucos se agitam os homens e redes azul a dentro pois é tudo azul
a não ser pelo mangue cinzento onde moram os aratus...