Desci o silêncio
Hoje desci o silêncio,
desci-me em silêncio no emudecimento
dos gestos gastos, retractos, retraídos
dos braços.
Hoje e sempre, descendi de mim, esqueci de mim,
para te escutar apenas e só, a ti.
Hoje, neste tempo em as palavras, uma a uma,
vão murchando a luz da lua,
e do sol, do sol nocturno, recolho laranjas
em gomos,
em frutos e pomos
secos de planos e sonhos,
desço o pano num palco sem palmas
sem raivas
sem glórias
sem astros
sem estrelas
(que se sepultaram vivas
a reflorirem na voz labial do pranto).
Hoje,
apenas a brida desta dor pungente em ferida,
dança danças orgânicas no linho branco da nossa cama.
Apenas a brida, de mãos dadas com o vento,
seca as lágrimas ao pensamento.