Geraldino também quer brincar

Dia 16

mais uma vez

a turma do

comer

trepar

dormir

vai às ruas

Não sei por que este tipo de "movimento?",

que só anda no açoite,

me lembra algumas revoluções

especialmente a francesa

o povo, massa de manobra desde que o mundo é mundo,

instigado por interesses que fogem ao seu conhecimento

e à sua compreensão, como antigamente vai para as ruas,

sem direito nem ao brioche,

vai para as ruas

dizer palavras de ordem

convencido de que está participando ativamente de um grande momento,

que tem voz e que tem vez

que o "REI" vai olha-lo e lhe cumprimentar

depois que o mar for para Minas e a luz do sol apagar

Geraldino também quer brincar

Sonha Geraldino!!!

Sacodem a massa amorfa

tiram-na solenemente

sonolenta e preguiçosa

do berço esplêndido onde costuma ficar

e põe-na a marchar

tendo como estandartes as cortinas duras e cheirando a esperma

de antigos e perenes lupanares

O povo, avesso a qualquer tipo de luta e de incômodo

naturalmente aparvalhado e entediado politicamente,

refratário, por índole moral e cristã, (leia-se comodidade) a estardalhaços

vai pras ruas

insonte, tadinho

MEU DEUS!!!

o povo está na rua

alguém vá lá e pergunte ao povo, antes que ele se machuque,

ou antes que ele se recolha ao berço esplêndido

com um riso bobo no rosto e a sensação de dever cumprido:

"Povo, estás nas ruas fazendo o quê? Logo tu que és tão pacato?"

"Sabes para quem fazias o que fazias?

"Para ti?" É o que me dizes?

Povo, algo ou alguém te engana

se acreditas que "Do povo e para o povo todo poder emana"

visto que isto que fazes não é da tua natureza reconhecidamente inerte

de viés pacato e ordeiro

que anda pé ante pé

devagar e mansinho

para não fazer barulho

para não levantar poeira

e não incomodar o "REI"

Tanta parvoíce se diz e se faz

pela incontida vontade, quando induzida, de falar

depois de uma vida inteira pacata e calada

tanta idiotice se diz e se faz

para se defender um reino de um rei que nem se sabe quem é

pela arrogância e a intolerância

pela estultícia

refletidas em parcas e cansadas memórias

pelo simples medo do medo enraizado

Tão boa a vida inconsequente

a vida de histrião descontente

a vida espargindo seu cômodo silêncio

meditando o cricrilar dos grilos

e o gutural coaxar dos sapos

e pouco ou nada importando as lágrimas

quando, seco os olhos,

a dor torna-se inacessível

e a última bofetada

e o último soluço engolem sufocados

o fragmento triste e doloroso

da morte moral

Dia 16 de agosto

mês de cachorro louco e desgosto

a classe média sem rosto

subindo nas tamancas

sob os holofotes de verdes e amarelos instantes

vai vadiar pelas ruas o "seu?" descontentamento

vai adiar

o almoço

a trepadinha rapidinha e sibilina

e a sonequinha de praxe

Hoje disseram pra ela ir pra rua pra protestar

ela vai

como o menino de recado vai o recado entregar

Mas, diante da sua incoerência indefectível e,

diga-se de passagem, incorruptível

ela, de si para si, não tá nem aí pra bandalheira

sonha, no íntimo, com um deputado, quiçá, um senador

um deputado para chamar de seu

se for um senador então..., ai Jesus

que arranje uns tijolinhos pro puxadinho

que arranje um emprego bacaninha pros seus filhinhos

se possível que dispense concurso

por que concurso tem que estudar

e os meninos saem muito à noite pra socializar (pra vadiar)

e durante o dia os pimpolhos, tadinhos, têm que descansar

se não tiver um carguinho

uma carta de apresentação, que seja

um deputado que lhes arranje um sorriso novo

um sorriso que seja a cara do povo

alguém que, pela graça de Deus,

arrume um par de belas tetas para ela também mamar

E, sonhando, eleição após eleição,

vota nos mesmos a que chama tão intimamente de ladrão

Enquanto a passeata passeia

no domingo ensolarado

chiando como um velho disco

pela Beira Mar afora

onde as águas são fezes pura

cai dos canos do petrolão

duas ou três gotas de gasolina

que incendeiam a lava jato

e a histeria do povão

Passado o momento cívico (cínico?)

tudo vira uma grande e descomunal piada

e ri-se, parvamente, até a boca ficar exausta

ri-se o riso gratuito, fácil e insano dos tolos

para os quais uma vida não chega para tanta pândega

E a vida, então, entra no prumo

onde tudo é sempre a lesma lerda

"Bem informado?", o povão

há algum tempo fez isto:

crucificou Jesus Cristo

entre o ladrão e o ladrão

Vá os cidadãos, espontaneamente, para as ruas reivindicar seus direitos...

Provavelmente a mão pesada do REI descerá sobre as suas espinhas de cão sarnento.

Debocha o art. 7º, inciso IV, da Constituição Federal: salário mínimo capaz de atender as necessidades vitais básicas do trabalhador e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social...

Valor do salário mínimo em 2015: R$ 788,00

Valor diário: R$ 26,27

Valor por hora: R$ 3,58

1 hora da vida de um trabalhador pode valer R$ 3,58.

Quanto custa 1 ovo colorido de boteco?

Alguém aí já viu/ouviu conclamações à população para protestar contra este que é, sem dúvida, um dos maiores escândalos que o país já viu?

Viva-se com um salário destes!!!

Enquanto a passeata passa o silêncio se despedaça impotente na tela do meu computador