O caboclo ( meu primeiro poema, ainda adolescente)

Adormecido em fé e ignorância
Rega nas mãos a sua inteligência;
Vez que o caboclo, desde tenra infância,
Faz do trabalho a sua consciência.

Embora não conheça o alfabeto
Escreve na terra sua obra prima:
A poesia que emoldura a rima,
Que lhe conforta e lhe dá um teto.

A poesia simples, o condimento.
A roça, a enxada, o suor do rosto;
A luta, a labuta , o amor, o gosto
De fazer das mãos o seu sustento.

Eu, que aluguei um banco de escola,
Da culta elite intelectual,
Realcei a inteligência cerebral
Que todos recebemos por esmola...

Quisera, ó caboclo, ter crescido
De sorte a alcançar tua grandeza.
Ser simples, como tu, por natureza.
Ser sábio de não ter mais aprendido!

Hoje aos sessenta anos, já vividos,
entendo este poema com clareza.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 18/07/2015
Código do texto: T5315598
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