Lucidez
Ao poeta Armindo Trevisan.
Disse-me o poeta
que lucidez enternecida
é a substância da poesia.
Capta-a o olho arguto
como antídoto
para o fenecer da fé,
diante de belezas
roubadas do porvir.
Ao pusilânime,
a mesma ciranda
embala o cotidiano
à roda do umbigo.
Não o comovem
as dores dos desamparados,
o turvo horizonte dos desenganados.
E no mundo caótico
de automóveis e
supermercados,
restam amargurados
os corações dos sensíveis.
Mas como ato de esperança,
o poema subverte
a lógica da história,
e põe sorrisos
nas dimensões
do tempo.
Como chuva de purpurina
clareando a noite
sem estrelas.