Carta
Fez-se presente no momento
O eco de teu sorriso leve
Agora ausente e absorto
No espaço de meu âmago,
Faz-se necessário teus olhos
Para o descanso da saudade
Desenhada nas esquinas,
Nos bares, restaurantes, praças
Documentando nosso passado,
Tenho para cada sorriso meu
Um lapso que dedico e divido
Com teu rosto pintado
Colorindo minha memória
Diluindo no meu rosto
O pranto que lhe causei,
Tenho o desconforto de não saber
Como foi seu dia, o que te alegra agora,
Quais os teus problemas,
De não ouvir tua voz
Viajada pela distância
Naquele idioma que construimos juntos,
Essa antologia das coisas simples
Marcada com a flor triste da distância
Essa ferida aberta que profetizou
A condição de viver a vida
Tendo que te amar ausente;
Os vendavais quixotescos
Das ilusões que definharam
Em um estúpido egoísmo
O futuro absurdo de promessas
Que anulou nosso presente,
Movo-me como brisa no agora
Estou alheio a tudo
E jardins florescem levemente
Com o sabor frustrante
De colher as flores longe de ti
Que plantou tudo junto a mim,
Houve muita interferência
De amargura sem razão de ser
De grandeza sonhadora
Para conquistar a paz
Para teus ouvidos bombardeados
Quis ser quem não sabia ser
Quis agir de maneira que não sabia agir
E assim não agi
Assim não fui
E essa máscara
Tirou a sensibilidade de nosso beijo
Me perdi no que não sabia fazer
Tentando decifrar enigmas
Querendo solucionar questões
Para encontrar a forma
De ter a paz nos rodeando
Para proporcionar-lhe felicidade,
A felicidade estava em sermos
As pessoas pela qual nos apaixonamos,
A única maneira de acontecer
Tudo o que fora esperado
Era sermos nós mesmos.