Meu passo
O asfalto firme da rua
afunda sob os meus pés;
porque é Poesia o meu passo,
real, concreto mas novo.
Meu passo existe, mas não
é só pressão dura e seca.
Eu trago bem escondido
embaixo dele um pedaço
perdido de algo qualquer,
que faz mudar o caminho
pisado; porém só o meu.
O resto fica uniforme.
Os outros passam qual sombras
e não produzem qualquer
estado insólito, e então
encalcam meu pavimento.
O meu terreno é macio,
macio pois não precisa.
Macio é ócio, mister
a todo ser vivo humano.
Mas eis que pisam nas flores,
depois abatem os pássaros;
e o chão se torna inflexível,
e o passo é duro e fadado.