Abstinência
Nevrálgico isto que tenho a declarar.
Não sei nem por onde começar.
Começo, meio ou fim.
Por mim, posso começar pelo fim.
Pelo menos esconderei muitas verdades sobre mim.
Oscilando pelos tempos da memória,
Tento reescrever esta minha história.
Colérica é a minha tenaz verdade,
Queres tu beber desta pueril realidade?
Só lhe digo duas coisas,
Se beber podes viciar ou se apartar.
A escolha é totalmente sua.
E será como um óleo doce, extraído de um fruto amargo.
Este é o sabor do meu embargo!
Toma-me pois de um gole único.
Consuma todo em um só trago.
Para tal verdade não há afago.
Não há qualquer meio púdico.
Somente em nudez eu me rasgo.
Me rasgo, me rasgo.
Depois me entrelaço,
Junto os meus pedaços,
Em um só embaraço.
E nesta colcha de retalhos,
Me refaço, me disfarço.
Crio nossos laços em entalhos,
E assim mascaro nossos traços.
Traços do passado que hoje quero reviver.
Então lhe torno a perguntar,
Por onde começar?!