Fosse

Fosse o vento este mantra

que sussurra sons de rouxinóis

poemas sem asas

seria anagrama metafísico da sempre mesma solidão

Fosse o mantra este silêncio no tempo

entoado como augúrio pelas nuvens rubras e suas chuvas lilases

consumindo as palavras que deslindam o poeta

seria a intangível canção do Angelus soando na tarde nostálgica

Fosse o silêncio o bater das asas de uma borboleta

em sua plena singeleza e sua inefável estesia

apagando a madrugada, acordando o dia

seria o som das letras roçagando a página em branco, esperando o poema

Fosse a borboleta o signo primordial e holístico da existência da alma

e o vento trouxesse a transparência da sombra e o aroma dos lilases

trouxesse a imponderável sentença da morte imanente à existência

seria o consumir-se inopinado do fogo aceso na candeia que é a vida