A alma seca

A alma seca sufoca os suspiros

apaga os pássaros

e a manhã já não canta da brisa a sua canção

apaga as flores no jardim

e as cores de entre os canteiros se vão

apaga a lua lasciva

e a noite adeja por sobre a sesmaria da ilusão

apaga a vida

e a quimera que a sustinha desvela-se em escuridão

apaga o amor

e a tristeza perambula nos adros da solidão

apaga a compaixão

e as dores, solilóquias

apaga o poema

e evolam-se os cantos rabiscados e envoltos em sedição

e, por fim, apaga-se a si mesma

e torna a mística quimera à escuridão eivada de expiação