Seráfico
Os dias inábeis
lentos e opressivos
cochicham
ao passar do vento
na dolência das tardes
uns versozinhos azulados
uns versos avessados
estórias irrisórias
e soluçantes
que nem sequer
desvelam a face fútil da vida
que não guardam
as areias
calendários do passado
caindo de uma âmbula
a outra
Os dias inábeis
caem
choram
e levantam-se
esquecem-se
nas miríades
de espelhos
esfumados pela ilusão
lacônica de frívolas
personas ensimesmadas
para quem a sombra e o reflexo
são a iconografia deslindando
o Ser dissoluto e póstumo
imagem imprecisa
dentro do tempo
que acaba de passar
diletante e longo
corroendo a aragem
que desce com os riachos
que escorre
imperceptivelmente
das incandescências
do horizonte cinábrio
que faz da vida
uma antiga e nostálgica
sucessão de amealhados
instantes
de sonhos por acabar
de coisas por esquecer
em seráficos luares
em rútilas horas
intangíveis
como os céus
evanescentes
num final de tarde lilás