VERSO MEDITERRÂNEO
Verso a hora pelo anverso da hora.
Também peço no meu verso:
Só um minuto de silêncio verdadeiro.
Sinto o espetáculo perdido.
São gravatas impecáveis,
Que manuseiam as canetas de ponta estrelada
As que canetam todos os destinos em branco mas
que paradoxalmente também curvam seus joelhos.
Todos, zonzos, correm atrás das rotas perdidas.
É como escrever a patética sina da vida
sem prólogo, sem enredo e sem epílogo,
e sem nunca se enxergar como também personagem dela.
Minha poesia, por hora, é qual o mar;
é cercada das mesmas terras vácuas,
evacuadas no desepero em compaixão pelas tragédias insolventes.
São muitas gentes...são muitas histórias boiantes.
Gentes iguais no tudo,
nos versos de plataformas distintas
sempre rimados por todos que passam:
Dores,misérias, angústias, medos, injustiças, preconceitos, desenganos.
Tudo sempre flutua...junto.
O mar é lugar comum a todos os barcos...
Ali, por hora,
Um pão amanhecido, uma mochila de nada
Tantas fomes abortadas
Mais um filho inesperado grudado no peito
O que se tenta salvar da vida.
Peito sem leite
Sem viço
Sem sedução
Nem morte morreria ali.
E no cenário
Tudo segue amontoado no bote inflável dos esquecimentos
Pela placidez aparente das águas
navegadas pelo surrealismo das histórias perdidas.
Sem bússolas definidas
Naufrágios da existência
Pontuam a resultante explícita dos descaminhos.
Pedaços de vidas,
Cacos de esperanças
Mosaicos de desrespeito pelo outro
Falácias de promessas perdidas,
Pelas despetaladas rosas dos ventos.
Ainda vejo ao derredor
As gravatas que vestiram todos os infernos.
Uma criança chora pelo futuro que não virá.
A mãe engole a lágrima dum mediterrãneo a seco.
E na terra firme do outro
Sequer a mão que acolhe se abranda.
Porque já não há espaço que suporte
-No traço nanquim da incongruência humana-
Tantos mediterrâneos na secura de si mesma.
Nota da autora: em sincera e perplexa homenagem..