O oposto de dizer adeus

eu não escrevo poesia

eu cuspo as palavras ao fim do dia

conforme a cicatriz

conforme o castelo ruia

eu penso em mudar de país

não lido bem com sentimentos

por isso minha poesia sai em fragmentos

eu costuro pensamentos e dores

em rápida e imprecisa sucessão

normalmente dosada em desamores

esses também rápidos no acontecimento

porém, longos na memória

se tornam mais um na história

se tornam mais uma cicatriz

destroem o sonho da minha alma-atriz

que quer expor a peça sobre como ama

onde quer que seja: da cozinha a cama

e eu não sei se sonhava um sonho

ou se o sonho que eu sonhava era você

sei que de repente estava a sua mercê

escrevendo poesia e me perguntando

"será que ela me lê?"

não lido bem com sentimentos

principalmente com perca

já perdi demais

(dos cabelos à paz)

e me tornei consumidor voraz

consumo: dores e amores

lágrimas e mares

com isso quero ver se

sumo, mas não acontece

e há quem me

consome: bate forte feito alfaia

o desejo desde que chegou na minha praia:

tem tua boca

que deixa minha alma oca

tem teu jeitinho de falar

que incendeia minha pira

e cada vez que eu te vejo

eu piro

(você não vê, mas eu te beijo)

mas ao fim de tudo

eu quero te ver feliz:

eternidade duradoura

com sossego então,

melhor que fique assim.

mas...

será esse o fim?

[01.04/00:01/2015]