RIDI
RIDI
como não rir da desgraça do palhaço
que caiu nas graças de seu próprio terror?
ou do que restou do homem de aço
que apesar de ser de aço
nao sabe se a maresia lhe é contra ou a favor?
como não rir daquele velho samurai
que, por necessidade, traiu seu coração?
como não rir, meu Deus, da odalisca
que pelos olhos põe faíscas
mas sempre acaba nas trevas da solidão?
como não rir de mim mesmo à essa hora
pensando-me seguro e dono de certa razão?
como não rir, céus, de mim mesmo, ora,
que se gaba de ter voado sem jamais ter deixado o chão
e quando pode deixou o cometa ir embora?
como não rir e rir e rir e rir e rir e rir
até que nos caiam todos os dentes da boca?
como não rir e rir e rir e rir e rir e rir
bêbados de chandon e maria-louca?
e rir e rir e rir e rir e rir e rir e rir e rir
como se uma vida só fosse pouca.