PONTIAGUDA DESPEDIDA
Medo por vezes é instante, talvez farsante
é ramo de uma quimera que veio de longe
pra ficar. É voz pausada, idosa, cheia de armadilhas
e fagulhas que fazem a alma sorrir.
Medo é vento afiado, robusto,
anda com passos de rei,
dorme no travesseiro do dever cumprido.
Medo é lago raso, imenso de sereias e segredos todos
traz no bojo da sua fé as ancas outonas de além mar
faz nossos sonhos voltarem ao ventre materno para lá sempre ficar.
Medo é abraço atroz, verruga traiçoeira,
sempre que chega desarruma o destino
sempre que vai faz nossa alma reencarnar de vez.
Medo é cigano, é gozo encardido, é beijo tardio,
infestado das nossas ferrugens, das nossas insolações,
é digestão à revelia, suor desafinado, pasto apagado,
quando quer se fazer de morto é que mais se faz vivo.
Medo é pele rouca, paixão sem imã, Deus sem casca,
nas tréguas arrastadas da nossa história arremata seu dom
nas fronhas que ainda iremos atracar refaz sua morada
no coração que tentaremos ser fará seu canto de chegada,
que poderá ser a nossa mais pontiaguda despedida.
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