No rio
No rio onde deixei o meu rosto nas águas rasas
rente ao leito de pedras tisnadas pela noite
calcinadas pelo vermelho de um sol inopinado
brotou, das águas do rio, como borbulha indecisa,
onde os meus lábios se refrescam
a luz do dia aflorando-se em laranjas e lilases
começando, ali, o mundo
onde, nos finais das tardes,
brotam as primeiras estrelas
brota a poesia que viceja
independente de desígnios e deuses,
independente de terras e luzes,
brota e viceja por que é vida.