Sonhos adormecidos

Agora que os sonhos adormecidos

querem despertar,

inadiáveis como as palavras

na iminência de serem poesia,

sobem aos céus os perfumes

deste setembro recendendo a azul

e ao aroma magoado da névoa da manhã,

úmido orvalho sonolento

Nos jardins onde cantam outros pássaros

acrescentando ao sol

o ímpeto derradeiro para dar fuga à manhã

as flores ressumando nostalgia já se abriram

com suas cores translúcidas e fragrantes,

inquietas como o mar inacabado que,

se desprendendo da areia da praia,

deixa a espuma friável do fogo que feriu

a bruma e os ventos

Um suspiro longo e canoro junta-se ao dia

que esplende com o primeiro azul

entornado sobre os barcos que dançam

e latejam ao recolher das âncoras,

ao enfunar das velas,

e seguem singrando por mares

exaustivamente navegados

pra não morrer