SOBRE O VERÃO...
Sobre o verão,
descobri que a poesia nunca cessa,
nem mesmo quando o sol é insuportável
e os grilos - entre os capinzais- regem
a única orquestra capaz de enlouquecer.
E também não cessa
quando as cigarras agarradas
a algum tronco evocam qualquer coisa
próxima- inda que exaurida- ao desespero
de alguém perdido no cio.
E não cessa ainda
quando os pássaros se escondem
entre o monótono farfalhar das folhas
e seu canto- intermitente- suaviza
a incandescência do sol a pino.
E nem poderia cessar
quando sinto o ar quente e desolado,
e num ímpeto eloquente enxugo
o suor da testa- luxúria de verão- cuja alvura
foi marcada de sonhos quentes.
( Imagem: google)