Decifrando o Poema
O Poema é um ponto de encontro entre letras que sonham. É a noite que inspira, é o sono do justo, é a antipatia dos bêbados, é o clamor da rua, é o amor platônico, é a paixão secreta, é a vida conjugal, é o solitário que sonha.
O Poema é o dia de sol que queima o nosso ego, é o esgoto que fede para suscitar o protesto, é o trânsito assassino que mata inocentes, é a quietude da mata onde origina o canto, é o ermitão praticando yoga, é o ateu que ama ao próximo, é a goteira da telha que vira poema.
O Poema é o som, é o tom, é o compasso, é a angústia, é a reflexão, é a alegria, é a taça quebrada, é a primavera sem flores, é o frio do outono, é o verão dos nossos sonhos, é a tristeza dos nossos invernos.
O Poema é o pesadelo do notívago, é a insônia do filósofo, é o livro jogado na estante, é a toalha molhada em cima da cama, é o pente com caspa, é o vidro de remédio em cima da geladeira, é a caneta sumida no meio dos papéis. O Poema é a cotidianidade, é o acaso da língua ferina, é o refrigério da alma que sofre, é a raridade da palavra oculta.
O Poema é a palavra que xinga, afaga, afasta e manda beijos. O Poema é a essência da nulidade. O Poema é a lágrima do poeta transformada em linguagem.