Disforme
Sou um punhado de anônimas faces
que andam e falam
e agem por mim.
Por dentro, disforme, como flores atadas
em que é impossível
discernir um jardim.
Não sei qual ponto separa meus rios
Dos meus oceanos
Por isso sou humano.
Não sei em que ponto termina meu ódio
E começa o apreço
Se é que ele existe.
Por isso recorto um retalho qualquer
E invento-lhe um nome
que agora o consiste.
Se a fronteira com a morte também for amorfa,
posso ser um engano
dizendo-me humano?
Diz for me que sou disforme
Me desinforma
do que sou formado
pra eu ver que é invisível
um limite de mim,
um contorno exato limitando meus lados.
E o que me separa do mundo
se sou um pedaço de mundo borrado?