ser ritualizado
Você estava tão enganada. A frieza, meu bem, não te leva a nada. A verdade é que fugir de um amor por medo de se entregar é como não beber por medo da ressaca. Eu nunca tive medo de beber. E se soubesse quantas doses já empurrei goela a baixo em homenagem ao teu nome; se soubesse quantos cigarros fumei por estar agonizado sem você... Você não sabe. Todos os que estão a minha volta sabem. E aí é que está a questão: você não esta mais a minha volta.
Você preferiu fugir. E não venha me dizer que não viu algo diferente nascer dentro de ti. Eu sei que nasceu. Mas não teve coragem. Não te culpo. Talvez chegue o dia em que eu não tenha coragem também. Talvez chegue o dia em que eu não beba mais pensando em você, quem sabe não fume mais os cigarros que têm você como causa, quem saiba um dia eu deixe de amar ou fuja.
Enquanto isso, enquanto não sei parar, apenas sigo. Como quem dança numa roda sem ritmo, na estrada da vida sem samba. O meu samba? Virou milonga. Daquelas que gritam o amor como quem grita a independência de uma país.
E eu, as vezes tão só, as vezes tão solto, continuo buscando um pedaço de gente pra me amarrar. Medo? Tenho tantos. Você é o principal. Mas se eu soubesse onde essa historia vai dar... Se eu soubesse como essa noite vai acabar... Não sei. Tomo mais uma dose. Scotch, puro e quente. Fumo meu cigarro até o ultimo tabaco e deixo que queime o filtro, na esperança de que queime meu amor. Não como quem acenderia mais uma chama, mas como quem gastaria um pouco de tanto combustível de amor.
E por fim, depois de uma garrafa e um maço - ou talvez dois -, noto que ainda amo. E amo com intensidade real similar àquelas das mais ridículas histórias de amor. Corrou-me por fora e por dentro. E como num ritual quase que incessante, o copo vazio me fita. E isso me soa como um desafio: não sou de nega-los, nem mesmo quando sei que perderei. Encho o copo, compro mais cigarros e continuo a amar.