TENHO QUE SENTIR...
É a primeira vez que sinto o verão de fato.
Antes sentia apenas seu calor, não tinha esse tato
que hoje me faz versar todas as estações...
E descobri que basta só a gente querer
e feito Pessoa fico perturbada querendo perceber
“ não sei bem como nem o quê ...“ Talvez moções...
“Como quem num dia de Verão abre a porta de casa”,
diz o poeta. Mas sou eu mesmo que cresço a asa
e voo “para o calor dos campos com a cara toda”,
sentindo o sol, a chuva e às vezes uma leve brisa...
E é até meu dever sentir, é o poeta que frisa...
E eu só tenho mesmo que sentir... O resto, se exploda...
Tenho que sentir “quando o Verão me passa pela cara “
e a mão leve busca a alva folha e não para,
que a poesia é chuva, é vento, é calor...
Descubro então que o verão é tão intenso
como a tempestade e não precisa ter bom senso,
como não tem a paixão e como não tem o amor...
( Grifos: Alberto Caeiro- pseudônimo de Fernando Pessoa)
( Imagem: google)