Recepção Póstuma de uma Primavera
Dêem-me uma dose de inocência
Para minha juventude adulterada,
Quero um sorriso espontâneo e embriagado de sobriedade,
Desses provocados por coisas simples
Em momentos reinados pela ociosidade
Quando enxergamos nos olhos de um estranho o próprio sorriso
E sentimos um aperto doce no peito como abraço de bem-querer
E o pudor bruto das palavras é substituído por um íntimo silêncio,
A minha solidão é desfiada em sonhos cerzindo seu rosto,
As colheres de trevas que tomei
Jogou-me enfermo nos braços do esplendor,
Os meus olhos sofrem de fraqueza por tanta beleza,
Em meu peito pulsa o contraste com o para sempre
E eu sinto a música terna do ocaso a me esperar
Sabendo que ela continuará no seio da aurora
Enquanto eu com as mãos em meu seio que te pertence
Volto para o ventre da terra para servir de adubo
Do amor que cultivei no tempo em que minhas mãos o plantavam.