PARALELOS

Quando a minha geração

tinha dos sete

aos catorze anos,

era comum

os pais perguntarem:

Então meu filho,

o que você

estudou hoje?

O que a professora

ensinou de bom?

Quando a minha geração

tinha dos quinze

aos dezesseis anos,

era comum

os pais perguntarem:

Então meu filho,

você parece

estar cansado?

Trabalhou muito

essa semana?

Hoje,

com as inversões

de valores

as perguntas mudaram:

Então meu filho,

quantas professoras

você xingou essa semana?

Com quantos colegas

você trocou

tapas e pontapés?

Então meu filho,

quantos assaltos

você cometeu hoje?

Em quantas pessoas

você atirou

para matar?

As balas

da minha geração

eram coloridas

e adoçavam as bocas.

Hoje as balas

têm um som de estampido,

e fazem o sangue jorrar

pelos buracos das testas.