TARDES EM COMA
o dia se apressa
até a hora do almoço
e depois trava.
tal qual uma jibóia no pescoço
sufocando até me faltar visão
e depois para.
o relógio, numa estranha indecisão
se recusa a atropelar os números
e então crava.
este sou eu acima do leito
leve, sem crânio, sem fêmur, sem úmero
sem cara.
o dia acaba
depois da hora do almoço
e não se repara.
agora forma, antes esboço
a noite abate a tarde
com sua clava.
sinto que o coração ainda me arde
mas o corpo não responde qualquer chamado
e não sara.
este sou eu, arcabouço acamado
onde a chuva bate
mas não lava