Sonetos 7, 8 e 9 do meu livro "Em todos os sentidos"
TRAIÇÕES
Sentado no cantinho do meu quarto,
Sombras do meu passado vão surgindo,
Reproduzindo meus versos em parto,
Que escrevo de mim, ao mundo se abrindo!
Ah, dores! Porque me consolam tarde,
Se a culpa não foi minha, nem da vida?
Coração sem motivos ter, não arde,
Dessas traições, por ti arrependida.
De paixão não é mais meu o teu fogo,
São a outros teus prazeres faiscados,
Amavas-me a brincar, feito esse jogo.
E vão-se amores sendo assim riscados;
Na lembrança o apenas desafogo,
De quem perpetrou a mim, seus pecados.
DEIXEM-ME A CHORAR
Depois que o sol se põe de modo brando,
Vou me abrigar em velhos sofrimentos,
E das minhas paixões que vou lembrando,
Faço-me de réu pelos julgamentos!
Como fosse o juiz, tenho a tristeza
Que lê minha sentença lentamente,
E se eu, de toda culpa, fui rudeza;
Por eles, vou chorar intensamente!
Choro esse vestir dos sonhos fruídos,
Que o regozijo de volta não traz,
Tantos desejos de nós, a implorar.
O ardor no peito dos anjos traídos
É agrura, dá pena e, me desfaz...;
Ó, por favor, deixem-me aqui a chorar!
DOR PROFUNDA
Deus, por favor, perdoe-me, lhe imploro!
Pela angústia que trago no peito...
Por dias, entristeço e também choro;
Não há mais lugar que sirva de leito...,
...Aonde, infeliz vá me consolar.
Vejo na fria sina as decepções
Das quais vontades vêm, de me matar,
Por minha mente - ter tais aflições.
Perdoei-me ó Deus, por profunda dor,
Que só eu, sinto o travo que me traz.
Em mortalha, o doente pecador...,
...Que d’um túmulo arguido já se faz,
Ver a justiça paga com o horror,
Num morto não sepulto, sem ter paz!
Eduardo (Setedados)
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