SOL DE INVERNO
 
Nas manhãs de inverno
 você sempre vem...
E às me descobre
envolta nas cobertas
enquanto lá fora tudo já está alerta...
Mas não é sempre assim...
Tem dias que te espero na janela
e até pinto uma aquarela
em meus lábios de carmim...
E até assobio algumas canções
pois o frio tem suas lições...
E, como de costume, você brilha
através da névoa pálida...
E eu feito uma crisálida
vou desabrochando... desabrochando...
e nem sou borboleta... imagine...
mas insisto em voar nas asas do vento...
Mas és tu que me imprimi
essa vontade de voejar;
essa vontade de misturar-me ao ar...
Eu não sei por que você faz isso...
Talvez porque eu seja qual um lariço...
E suporto temperaturas intensas...
Ah! tudo sabes minhas crenças...
Acho que sabe mais sobre mim
 do que eu mesma. Ah! sim...
Sabe, por exemplo, que gosto do inverno
e que no ededrom eu me hiberno
sem coragem de levantar...
E por isso vem me acordar...
E eu me entrego ao teu feitiço,
ao teu jeito de me despertar,
sorrateiro filtrando as rendas
da cortina a balançar...
Ah! Tua luz é minha prenda...
e assim meio trôpega,
um tanto em desalinho
acabo deixando o ninho
só para te saudar...
E tu depois de me beijar
desse seu jeito meio enrubescido
vai rasgando a trilha
entre o capinzal seco
secando os rocios inda intumescidos.
Espalhando teu calor...
Eu me derreto com tanto fulgor
feito geada na serra...
Ah! Nessa hora tudo se desterra
só pra ti sentir...
Há tanto motivo para sorrir
ainda que seja inverno...
E teu calor é tão terno!
 
 
 

( Imagem: google)