Assim eu sou...

Quando me fiz gente neste mundo,
minha mãe ao me ver
tão pequena, chorosa e sentimental,
decidiu que eu me chamaria poesia.
E assim sem o saber,
ela tornou-me de uma forma alquímica
numa metáfora...
vestida numa alma de menina.
Um tio meu esquizofrênico
mas sempre sábio em seus silêncios,
ensinou-me o segredo
dos sentidos por trás das frases.
Por isso,
meu coração sempre busca
sentidos mais profundos,
deixados na entrelinhas.
Busco o próprio significado do silêncio
na quietude das mentes.
E é assim
que gosto de estar nas pessoas.
Gosto de entrar pelos olhos
perscrutar...
buscar a alma...
o cerne...
pois outra coisa
não há de me interessar.
Mas confesso,
eu tenho medo da noite...
e temo a solidão
que habita o coração vulnerável
em meio à noite da alma.
Temo a solidão dos amantes,
que se contorcem
em desejos massacrantes
nessas noites...
de ausência que não tem fim.
Realmente eu não sei
se sou capaz de ser suave,
pois não sei se há mais vantagem
em ser onda ou marola,
tombo ou tropeção,
vento forte
ou mera brisinha de meia estação.
Finalmente,
não hei mesmo de ser sutil
ou uma leve impressão.
Hei sim,
de imprimir-te minha marca
seja como um leve toque de dedo
na areia fina e suave...
seja como a pressão das mãos
na argila maleável...
seja como um metal incandescente
marcando a fogo o couro resistente...
ou mesmo um impiedoso machado
que deixa na madeira um sulco bem talhado.
Seja como for,
tudo dependerá...
da resistência que fizeres a mim.
E hoje,
que tenho uma personalidade já formada
te digo...
se não conheces a alma dos homens,
de nada adianta conheceres o mundo inteiro,
nem dele possuíres todo o conhecimento.