Alguma Poesia*
O DESEJO
Quantas vezes o Tigre
fez-me domado
com patas sobre o peito e garganta
- boca aberta babando em meu rosto?
Não sei. Não sei.
Lembro amores em variados bíceps
corpos em arco a disparar serpentes.
O Tigre acossa-me. Vejo!
sou seu espelho.
"Narciso" escreve com garras
em meu ventre.
E começa a lamber o que me resta.
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ÊXTASE
A sombra que cai
pulsante e úmida
domina o silêncio geométrico.
É a tarde que flama
a cabeleira da noite
acendendo meus olhos
para teu corpo.
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CICLO
A cama espinha teu corpo
e na meia-noite insone
teu desejo ofusca a pálida minguante.
Sou eu que me vingo e surjo com as marés,
semente no chão solta pela preamar.
Sou eu, homem, que venho e broto
os lenhos que crescem nos Ciclos, a seiva que corrói.
Raiz que afunda a coifa no teu desespero
sorvendo a inquietação em fome crescente.
Ou o tronco largo,
silhueta em poros na anatomia dos abraços.
Não, não passarão as Estações.
Porque todos os homens me levarão a ti.
No teu corpo continuo em verdes frutos
que amadurecem em escândalo no verão.
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BIZANTINE
Pacientemente
cobriu o corpo
com o robe preto
Se untou
com ervas medicinais
como se a eternidade
tivesse passado
Escovou os cabelos
(oleosos)
e o pescoço alvo, alvo
- cor de nácar -
era um fidalgo a mais
Abriu as janelas
- noite de lua -
e pacientemente
esperou
Nosferatu
Raimundo de Moraes
*Poemas incluídos na coletânea "Nus". Seleção, tradução e notas de Paulo Azevedo Chaves. Editora Comunicarte, Recife - PE.